A ruptura dos nós
Belvedere Bruno
Quando
me dispus a romper os nós que me atavam a um universo frágil e vazio, senti que
a tarefa seria hercúlea. Não me acovardei. Foi como se montasse um cavalo alado
e vislumbrasse paisagens que certamente reformulariam o roteiro de minha
existência.
Deixei tudo para trás, não me importando se em meu ato havia
ingratidão, frieza ou maldade. Dispensei autojulgamentos. Transformação era o
que desejava,não o prejuízo de quem quer que fosse.Fui taxada como
adesagregadora de lar.Logo eu, que sempre fui a boazinha, acalmando
ânimos,aparando arestas... Cansei!
Saí do apartamento, deixei livre meu marido, pedi aos filhos que tomassem seu
rumo.Queria viver a minha história, não mais a deles.
Comprei
um chalé na serra e nunca senti vontade de enviar endereço a
ninguém. Risquei da agenda todos os contatos. Rompi com o exterior, estafante
em sua mesmice. Sinto o ar puro, o aroma desse verde sem fim. Explosão de
plenitude.
Que satisfação cortar minha cabeleira e abolir tinturas! Dar um basta aos salões,
academias, shoppings! Caminhar sem preocupações, exercitando livremente o
direito de estar em paz comigo mesma.
Como prezo a liberdade! Ler, escrever bobagens, não pensar no amanhã!
Nenhuma saudade do passado. Não me lembro de coisas nem pessoas. Sempre tive
certeza de que esse negócio de amor materno era mito, daí ter sido fácil,
também, desvencilhar-me de meus filhos. Marido é como objeto, que permanece ao
nosso lado enquanto tem função definida. Lamento apenas o tempo que
perdi. Serei, no íntimo, uma pessoa fria, sem vínculos afetivos?
Não sei, nem quero analisar o fato. Estou feliz como nunca estive em minha
vida. Não é a felicidade a meta do ser humano?
Se sinto falta de amor? O amor está no ar, é só questão de compreender que não
é imprescindível a tão propalada simbiose.
Hum... a campainha está tocando. Que maravilha sempre saber quem é! A tal
estabilidade que afaga, diferente daquela que esmaga. Hoje, celebraremos cinco
anos da ruptura dos nós, que deu origem a um viver pleno de delícias!
Lágrimas de Areia
ResponderExcluirLá estava ela, triste e taciturna.
Testemunha de efêmeros conflitos,
Com um olhar perdido no tempo,
Não exigia nada em troca
A não ser um pouco de atenção.
Sentia-se solitária, oca,
Os homens admiravam-na pelos seus dotes.
As crianças, em sua eterna plenitude,
Admiravam-na muito mais além...
... Mais humana!
De sua profunda melancolia
Lágrimas surgiram.
Elas não umedeceram o seu rosto,
Mas secaram o seu coração,
O poço da alma,
Aumentando cada vez mais
A sua sede.
Lá ela permaneceu; estática, paralisada!
Esperando que o vento do norte a levasse
Para bem longe dali!
O dia começou a desfalecer.
Seu coração, outrora seco e vazio,
Agora pulsava em desenfreada arritmia.
Desespero!
A maré estava subindo...
Em breve voltaria a ser o que era:
Um simples grão de areia.
Quiçá um dia levado pelo vento,
Quiçá um dia... Em um porto seguro.
Do livro (O Anjo e a Tempestade) de Agamenon Troyan
Que belo poema! Muito obrigada por seu carinho! Escreva sempre.
ExcluirBjs
Belvedere