sábado, novembro 26, 2011

Agora, apenas vislumbro sombras de Natal , já que seu verdadeiro sentido foi subtraído da forma mais perversa possível.

Sombras de Natal


Belvedere Bruno


Tâmaras, damascos e passas
sobre a mesa me trazem delicada
imagem de papai...
Tonalidade, textura e o arranjo cuidadoso
dão perfeição a um  surpreendente
quadro de saudade.


Sempre trazia à mesa coisas diferentes, que muitos diziam não gostar. Admirava o empenho dele em fazer, daquele dia,  uma data especial. No entanto,nunca falava em  Papai Noel, dando  ele mesmo  os presentes aos filhos com a cara e a coragem de pai. Assim fomos criados.    A  alegria  era  genuína naqueles dias...

Quando  partiu ,  o Natal se aproximava. Fiquei sem as minhas referências.   Nada  havia   a ser comemorado . Onde estava aquela transparência , aquela doçura, aquele doar-se? Teria tudo  se desvanecido   durante a  sua partida? Amorosamente,  tentara  preservar o Espírito Natalino na família, exemplificando-o   em toda a sua trajetória.  Hoje, observo que a  realidade mostrou-se  mais forte  e dura  do que o sonho daquele homem.

Desde que ele  partiu, nunca mais tive em casa enfeites natalinos ...  Papai- Noel , triste figura, se torna a cada ano  presença mais indigesta.

Já faz algum tempo que Natal  virou sinônimo de comércio, bebida...  e  samba!  Tudo foge à  sua simbologia .Não preciso ser cristã para chegar à  conclusão  de que toda a poesia que, de fato, existiu algum dia,  deu lugar à falta de bom senso e  respeito. Tão longe está aquele Natal de minha infância...

Que passe rápido, é o que desejo, reconhecendo, no entanto,  o esforço  de alguns  seres amorosos que  tentam  preservar a data, seja no sentido  cultural ou religioso.

Agora, apenas  vislumbro sombras de  Natal , já que seu verdadeiro   sentido  foi subtraído da forma mais perversa possível.

E nas minhas mais remotas lembranças, ouço  vozes alegres e  francas,  que  me dizem: - Feliz Natal, Belzinha!

5 comentários:

  1. Feliz Natal
    Belzinha,
    e nossos irmãozinhos europeus estão a pensar
    que apenas eles ficarão sem festas, que apenas
    lá houve a subtração perversa da mais pura e genuína alegria.
    E agora, pergunto-me:
    será que irão ler o que você escreveu?
    Assim espero.
    Beijos,
    Eliana Crivellari-BH-MG

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  2. Bel, lembras-te como nós ficámos contentes, quando este teu belo texto foi publicado no Jornal "Diário As Beiras", da minha cidade?

    Maria João Oliveira
    COIMBRA - Portugal

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  3. Queridas amigas

    Numa tarde meio sombria chegam essas palavras que iluminam meu coração e me dão esperança em dias melhores. Há consciência, há sensibilidade no mundo. Vejo que não estamos perdidos.
    Mil bjs
    Belvedere

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  4. "E nas minhas mais remotas lembranças, ouço vozes alegres e francas, que me dizem: - Feliz Natal, Belzinha!"

    Belvedere,
    De amorosidade, ternura , e afeto...vc. sabe- como poucos iinteiro o alfabeto, e onde moram.
    Bjs, Valentina

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  5. Por aqui , as tamaras floram...seu texto me faz sentir em suas ramagens toda saudade do Brasil.
    Livia Abdala-Líbano

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