segunda-feira, julho 18, 2011

Era, definitivamente, uma mulher só...

A solidão encontrada 



Belvedere Bruno










Estava só; apenas com seus pensamentos. Deitada , relutava em ler algum entre aquele amontoado de livros. Não sentia vontade de assistir aos lançamentos cinematográficos, cuja programação havia sido entregue pela videolocadora do bairro. Guardara também todos os cd's. Havia silêncio a seu redor, algo denso, embora o sol entrasse convidativo através de sua janela. Para ela, naquele momento, o mais coerente era manter o cobertor sobre seu corpo. E fechar a janela.


Já não tinha idéia de quantas estações vivera, nem dos caminhos percorridos...


Suas lágrimas já estavam gastas por perdas sucessivas na vida. As conquistas atuais pareciam fogos de artifícios, que logo se perderiam. Pensava também em rasgar fotos, que já não diziam nada, a não ser lembrar ficções...


Sentia que não cabia mais perguntar ao destino, aos céus, ou a Deus: "Serei para sempre, uma mulher só?" O hoje já era o seu amanhã, e a constatação de que estava sozinha, de que este era o seu contexto na vida, fazia com que permanecesse debaixo do cobertor. Era, definitivamente, uma mulher só. Aquela constatação doía, mas nunca temera verdades.


Trancou seu coração, de forma que, a partir daquele momento, esperasse apenas a despedida de si mesma.

6 comentários:

  1. Bel, encontrei esta pérola e publquei,claro!
    Bjs,nana

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  3. Belvedere, parabéns pela brilhante estreia em Literacia. Gostei muito de seus contos-prosas.
    Abrs de Filipa

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  4. Obrigada pelo estímulo, amigas!!!!!!!!!!!!!
    Bjs
    Bel

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  5. Nesta solidão desabitada, deparo-me com uma despedida muito difícil, ou seja, "a despedida de si mesma"... Este conto remeteu-me também para as perguntas que se deixam de fazer, quando se perde a esperança, para um silêncio lunar que é preciso ouvir, para corações que ainda pulsam, mas estão trancados "debaixo do cobertor". E esta "despedida" passa-nos, muitas vezes, ao lado.
    Obrigada, Bel, pelos momentos de reflexão que este teu conto me proporcionou.
    E um abraço de parabéns pela tua estreia, na Revista LITERACIA!

    Maria João Oliveira

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  6. Obrigada, amigos. Obrigada, Maria JOão por mais uma vez brindar meu texto com uma análise.
    Bjs

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