sexta-feira, julho 29, 2011

Mas o importante em tudo isso é a certeza do quanto a minha vida vale a pena ser vivida.

Convite à celebração



Belvedere Bruno


        Tardes alternadas por sol e  sombras parecem tecer tramas de nostalgia à medida que se aproxima  a grande  celebração:  meus 70 anos. Escolho minuciosamente os  cenários  que farão parte do esperado  evento: queijos , vinhos, música-ambiente, trajes,  entre dezenas de itens que marcaram,  de forma indelével,  a minha existência.   Vivenciei o apogeu dos Beatles, a era  da cuba-libre, dos bailes orquestrados... Vi e ouvi Ray Charles cantar  ao vivo Georgia on my mind.
 
       Ah, meus tempos! Cá estou mergulhado em saudosismo, coisa que sempre abominei nos mais velhos.
A turma dos sessenta e poucos e dos setenta vai  bem. Quase todos malham nas academias, correm nos calçadões e, por incrível que pareça, do pessoal da antiga, raros estão no andar de cima. A maioria já se casou duas ou três vezes, tem netos, e apenas eu optei pela liberdade sem vigilância.

         Epa! Essa bochecha caída não me pertence, nem essa barriga! Mas não é hora de pensar nisso. Tenho que me ocupar com o grande dia. Se planejo uma festa de arromba, serei fiel ao  meu contemporâneo, o rei Roberto Carlos. Estar em  alto astral é imprescindível, embora a melancolia, às vezes, passe de fininho.  É  aquele vai e vem.
  
            Os trajes da festa  serão anos 60, porque foram os do apogeu, dos sonhos, da liberdade! A convidada especial, Ilse, musa de minha vida há décadas, será uma exceção, pois  irá  glamurosamente  trajada  à  Rita Hayworth, de vestido  longo  e esvoaçante, tal qual  nos  inesquecíveis musicais . Tudo praticamente pronto. No  bufê, constará o que existe de mais sofisticado, porém  o clima será antigo. Vêm-me à mente aquelas fotografias em sépia. É como defino o cenário que sonho para a celebração.  Músicas da década de sessenta, setenta, e  filmes num telão, entre outras coisas, mostrarão,  também,  a época  em que cheguei ao mundo: anos 40!  
O  bolo... Bem, será uma surpresa . Hollywoodiano. Omito   detalhes, por medida de segurança. E se  a notícia vaza para as colunas dos semanários  locais ?
        Quanto a mim, estarei vestido à Elvis Presley, que sempre foi meu ídolo. Faltará  a cabeleira, com certeza.  Serei um Elvis nos seus derradeiros  dias. Gordo, menos ágil, e sem o brilho que  encantou multidões.
                  Mas o importante  em tudo isso é a  certeza do quanto a minha vida vale a pena ser vivida. E celebrada!

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