segunda-feira, agosto 29, 2011


FERA FERIDA







Não vou mudar, esse caso não tem solução
Sou fera ferida, no corpo e na alma
E no coração
[Roberto Carlos e Erasmo Carlos]

Descobri-me um ser possessivo na medida do absurdo. Não acreditava que minhas reações pudessem ser tão desequilibradas. Chegava a me desconhecer. Não parecia aquela mulher sempre elogiada por sua sensibilidade e espírito pacificador. Não. Realmente ao ver meu ex ao lado de uma mulher, virei fera. Ansiei por distribuir tapas, unhadas, mordidas, e xingações, as mais baixas.

O que fazia ela ao lado dele? Naquele lugar, eu era presença cativa, e eles os forasteiros. O espaço era de músicos e poetas, numa festiva noite de sarau. Felizmente eu não estava agendada para interpretar nenhum trabalho. Que condições teria, subjugada por esses estranhos sentimentos?

E eles, que faziam ali? Ele não se aquietava em locais parados, tinha que estar sempre mobilizado por alguma coisa. Hiperatividade pura. Observei, então, câmeras e microfones com eles. Compreendi que se tratava de trabalho.

Por que teria que ter parceria com uma mulher, e ainda loura e bonita? Meu coração batia numa freqüência assustadora e sequer medicamento tinha na bolsa. Levantei e fui tomar um café que estava tão quente que esfolou parte de meu lábio inferior; inchou como se eu o tivesse mordido.

Ai meu Deus, apazigua essas sensações diabólicas, mas antes me deixe ir até ele e dizer que não admito outra ao lado dele. Aproximei-me e com voz macia e mão estendida, parabenizei-o e ele me disse: - Por que parabéns? Faço o meu trabalho de filmagem e Rosa Helena o de repórter. - Fingi não ouvir e dei de costas. Ele sabia que eu o parabenizava pela acompanhante.

Mas como eu estava senhoril com aquele vestidinho... por que não ousara naquela noite? Por que não usei o top com brilho e o saião negro transparente? E meus saltos finos? Essa é a minha marca registrada: a sensualidade. Naquela noite me vesti de forma pueril. O universo conspirara contra mim. Que papelzinho miserável me coube!

Peguei os livros que havia levado para autografar, e, no meio do evento, me retirei, irada, desesperançada e acima de tudo humilhada. Era como se tivessem me cortado parte da asa.


Cheguei em casa, vi todas as nossas fotografias, e rasguei cento e oitenta e uma, ou seja, todas .

Custei a dormir. Virei na cama a noite inteira. Sonhos cheios de imagens fantasmagóricas...

Acordei com o telefone tocando. Atendi sonolenta e do outro lado alguém me disse:- Olha, o que parece nem sempre é...

Era ele, com a voz macia, querendo me fazer entender que eu ainda era a mulher amada.

Estava cansada e puxei o edredom, cobri a cabeça, e gritei o maior dos palavrões, desligando o telefone. Tentei dormir novamente. Em vão.

Sou fera. Estou ferida.

3 comentários:

  1. Vixe, esse texto é real, mas é antigo. Sabe que gostei de vc ter desenterrado do fundo do baú? rsssssssssssssss
    Belvedere

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  2. Belzinha, fico a revirar meus guardados à cata de suas prosas e contos. Vc. esquece de mandar. Ainda bem, que tenho suas pérolas aqui.
    Bjs,nana

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  3. Agora mandei meu site querida. Vou enumerar os que gosto.
    Tem alguns meio bizarros que excluo. rsssssssssss

    Bjs

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