sábado, outubro 01, 2011

Ver João Marcelo, ouvir sua histórias, era um momento de encanto para mim.

O MENINO DE RUA



Belvedere Bruno

        

Já estava acostumada com a alegria de João Marcelo, o menino de rua. Conheci-o com a perna envolta em ataduras. Perguntei o que acontecera com ele. Explicou detalhadamente que no carnaval havia sido atropelado por uma madame na Praia de Icaraí, e ela sequer prestou socorro. Tinha testemunhas e o caso estava lá na polícia, dizia com ar sério.

Ver João Marcelo, ouvir sua histórias, era um momento de encanto para mim. Diariamente, eu dava uns trocados para seu lanche e perguntava a razão de a perna não curar. Quis que ele viesse aqui em casa, para que eu visse os machucados sem as ataduras, mas ele disse que o doutor não iria gostar nada, e desconversou. Ficamos nessa uns quatro meses.

Certo dia, quando voltava da academia de ginástica, encontrei Dona Zildinha, que era assistida no trabalho voluntário que eu fazia lá no centro comunitário. Ela estava catando lixo e, quando me viu, correu ao meu encontro, me beijando e abraçando. Viu João Marcelo que, no exato momento, passava com um misto-quente e uma coca-cola. Então, ela gritou: "João Marcelo, o que te aconteceu, menino de Deus?" E ele seguiu, não a olhou. Contei a ela a história. Zildinha começou a rir... ria sem parar. Ainda chamou mais duas amigas que, como ela, catavam lixo, e elas começaram a rir também. Eu, com cara de apatetada. Por fim, me diz que João Marcelo é vizinho dela e não tem nada. Cheio de saúde! Ela o vê diariamente sem nada na perna. Certamente, ele faz isso ao descer o morro.

Nunca mais vi o menino depois desse dia... Lembro-me dele, das suas invencionices, da sua alegria...

Saudade de João Marcelo!

3 comentários:

  1. um texto antigo e real.
    Bjs
    Belvedere

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  2. Belvedere,
    Nana me falou de Vc. e muito bem. Li sua coluna - e afirmo: gosto de sua escrita fluída e clara.
    Abs, Valentina

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  3. A necessidade, as vezes, faz de usar algumas táticas não tão certinhas, ele só queria o misto-quente e a coca, era um sonho... quiçá, talvez...
    Tenho saudades destas épocas antigas que havia peraltices de crianças, não este despautério de corrupção.

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