O Colete
Belvedere Bruno
Hoje, vasculhando os armários, encontrei meu colete multicor. Impressionava pela mistura um tanto inusitada das cores que vovó utilizou. Por exemplo:cenoura com rosa, azul com verde, preto com roxo. A princípio, relutei em usá-lo, pois parecia um verdadeiro carnaval. Depois, pensei, e senti o quanto de calor e amor havia sido colocado no tricotar daquele colete. Na verdade,eu sabia que ela aproveitara todas as sobras de lã que havia no cesto.Passei, corajosamente, a desfilar com ele todos os invernos de minha adolescência. Realmente, chamava a atenção. Diziam que ela havia tido uma imaginação fora do comum. Fazia sucesso. O tempo passou e ele acabou sendo colocado junto às roupas não mais usáveis. Hoje, ao pegar o colete com as cores tão vivas, e ele, ainda tão atual, arrojado, lembrei-me com ternura de minha avó, que, ao tricotar, ensinava também às filhas e às netas a arte que tão bem dominava. Afaguei o colete, apertando-o de encontro ao peito. Pareceu-me sentir o cheiro de vovó e ver-lhe os dedos, mágicos, fazendo de fios de linha um colete.Desafiando o tempo, essa lembrança fez meu coração bater em ritmo de adolescência e as lágrimas caírem, trazendo-me a certeza de que o tempo voa.
Bel,
ResponderExcluirLindo e cheio de ternura o que você nos trouxe
hoje.
"Escrever é batermo-nos com tinta..."
Maravilhosa também a ilustração que a Nana
fez, carinhosamente, para o seu texto.
Adorei!
Parabéns às duas,
Eliana Crivellari
Olá Belvedere! Gostei muito de sua Coluna, este conto-poético tocou minhas saudades profundamente.
ResponderExcluirAbraços de cá!
Livia Abdala-Líbano
AMigas, o colete está nos meus guardados e ali me vejo tão miudinha... Parece caber dobradinho na palma de minha mão.
ResponderExcluirSaudade de vó.
Bjs
Belvedere