domingo, dezembro 04, 2011

E cá estou, nas minhas divagações. Por que não apertei suas mãos, não acenei adeus, não acreditei na partida?

Sem sentido


[Dedicado a Filipa Saanan]

Belvedere Bruno

   Naquela manhã, quando  o telefone tocou, atendi contrariada, certa de que se tratava de mais uma investida do telemarketing. Porém, a voz do outro lado me surpreendeu. Era Lúcia Helena, amiga de longa data, que vinha falar da alegria de ter trazido Mariana para a tão decantada antologia feminina, planejada há dois anos, e que, enfim, sairia neste mês de dezembro. Os temas eram polêmicos e, agora, somando- se  à força incomum dessa escritora, sentíamos que o projeto seria a realização dos nossos  ideais.

   Empolgadas,  iniciamos os preparativos, e o dia a dia era letras para lá, letras para cá, emoções  e expectativas.
   Eis  que, em meio às alegrias, surgem  nuvens. Insegurança e medo  começam  a rondar o grupo . Havia sentenças, que, particularmente, optei por não aceitar, na chamada  fuga  da realidade.
 Por que Mariana?
   Desejava conhecê-la verdadeiramente, pois  nosso contato  sempre fora rápido  e virtual,  embora   admirasse  sua  coragem ao expor seus pontos de vista. A cultura que acumulara nos anos em que vivera no exterior era incomum. 
  Enfim,  o veredicto. O tempo era breve.  No entanto,  ela continuava a produzir, talvez procurando  desvios  das rotas tortuosas .
  Sondas, transfusões e morfina, onde antes havia projetos e alegrias. Consternações.
  Mil vezes, em rompantes  de fúria, blasfemei.  Que desígnio é esse, meu Deus?  
  Quando os olhos  se fecharam e as ideias. pareceram dar trégua àquela mente em ebulição, em  seu rosto transpareceram possibilidades  de  infinitos  voos. 
  E cá estou, nas minhas divagações. Por que não apertei suas mãos, não acenei adeus, não acreditei na partida?
  Onde  ficou seu último grito contra as injustiças, Mariana?
  Dói meu peito. O coração  parece lacerado. O nunca mais é demasiado cruel para se aceitar passivamente.
Em que mundo, em que espaço e, em que tempo, poderemos nos encontrar?
  Adeus, Mariana. Saudade do que não vivi.

2 comentários:

  1. Bel,
    Interessante. Os últimos e-mails que recebi de Filipa, os três últimos, não apaguei.
    Estão em minha caixa.
    Lendo agora o que você escreveu, abençoei o fato de não havê-los deletado.
    São agora uma grande força para mim.
    Acho que alguma Força me orientou, para que eu
    conservasse os escritos dela.
    Assim, posso reviver um pouco o vínculo eterno
    que em poucos dias entre nós se formou, fora o fato de sempre poder reler a coluna da Pipa, um enorme
    legado que ela nos deixou.
    Não precisa sofrer, Bel.
    Releia a coluna e terá muita força.
    bjs, querida,
    Eliana Crivellari-BH-MG

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  2. Logo após sua partida senti uma força inenarrável,mas há alguns dias me bateu uma tristeza... Entende a nostalgia do não vivido? É conforme narrei.... Parece mentira que tudo foi tão súbito. É sem sentido. EStou triste sim, confesso.
    Bjs
    Belvedere

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